Este texto foi criado em resposta a um tópico de reflexão criado no nosso grupo no Facebook, Cosmetologia Orgânica Discussões Técnicas, para passar uma visão real das dificuldades enfrentadas por consumidores e produtores de cosméticos naturais no país. É um apanhado de alguns aspectos que se somam para formar alguns obstáculos para o desenvolvimento da cosmética natural e orgânica em nosso país e tem o intuito de promover uma discussão que possa trazer ideias e soluções.
Não é necessário olhar para dados de mercado para perceber que a cosmética natural está em ascendência mundialmente. Acompanhando o movimento global, o aumento de interesse nesse tipo de negócio cresce também em terras brasileiras.
Esse nicho da cosmética é por si só, naturalmente desafiador, seja pelos aspectos técnicos das formulações, muito mais complexas e que exigem condições especiais na formulação, seja pelas dificuldades burocráticas impostas pelo negócio como um todo.
Então quais são os desafios enfrentados por aqui por quem quer consumir ou investir nesse mercado?
1 – Falta de legislação específica. Como já conversado em nosso post sobre os aspectos legais da cosmética orgânica no Brasil, cosméticos naturais não tem uma definição legal, e portanto, é bastante difícil separar o que realmente é natural (segundo os padrões das certificadoras) do que é Greenwashing. Quanto aos cosméticos orgânicos, a definição não é aceita pela ANVISA, portanto, a oferta desse tipo de produto é bastante contida pelos aspectos legais, tornando os produtos mais caros e difíceis de achar.
2 – Duras exigências para pequenos negócios. Como não existe hoje uma categoria que enquadre o pequeno produtor, a popularmente chamada de cosmética artesanal, para se legalizar um negócio de cosmética atualmente, é necessário que o empresário se adeque às exigências legais impostas à indústria de cosmética. Um dos fatores mais limitantes são as exigências relativas ao tipo de imóvel, além dos custos de registro dos produtos, tendo em vista que pequenos produtores geralmente produzem lotes menores, a inclusão desse custo no valor final do produto tem um impacto significativamente maior.
3 – Cursos de capacitação. No mercado brasileiro, não somente a demanda por cosméticos naturais e orgânicos tem crescido, mas também o interesse de muitas pessoas em se tornarem profissionais nessa área, atraídas pela possibilidade do negócio.
Hoje contamos com cursos de graduação em Farmácia e Química, além de alguns cursos técnicos para capacitar profissionais em cosmetologia. Porém, não há ainda no país um curso direcionado para a área natural. Enquanto em vários países os cursos de capacitação direcionados a pessoas de fora da área da saúde são vastamente disponíveis, no Brasil os cursos profissionalizantes geralmente exigem como pré-requisito uma graduação na área farmacêutica ou química, ou são cursos com enfoque na cosmologia tradicional e que exigem que o aluno continue os estudos na área da cosmética natural após a formação.
4 – Acesso à matéria-prima. Esse é um dos pontos mais limitantes para o pequeno produtor ou para aqueles que desejam fazer seus próprios cosméticos em casa para uso próprio.
Matérias-primas funcionais como conservantes, emulsionantes e solubilizantes, são de difícil acesso. Essa limitação implica na gama de produtos que são oferecidos no mercado artesanal; Enquanto produtos anidros são os mais vastamente produzidos, em decorrência da facilidade na obtenção de óleos essenciais e vegetais em nosso país, outros produtos como águas miscelares, loções, óleo géis e outros são geralmente mantidos fora do portfolio.
Para aqueles que são ‘pessoa física’, o acesso à matéria-prima é limitado por uma oferta bastante escassa e limitada em opções, enquanto que para os que são ‘pessoa jurídica’, as quantidades mínimas vendidas pelas distribuidoras são, no geral, limitadoras.
Existe a possibilidade de importação de matérias-primas, com algumas distribuidoras entregando em território brasileiro, porém, os altos preços de frete e a morosidade dos sistema de entrega, que dependem de liberação pela Receita Federal, geralmente desanimam.
5 – Acesso a equipamentos. Quem já se aventurou pelo mundo das emulsões sabe o quão importante é um agitador de alta rotação, aparelho que faz parte da lista de desejos de muitos formuladores. Enquanto a aquisição desse tipo de equipamento é facilitada em regiões como Europa e América do Norte, por aqui as dificuldades continuam; do pHmetro ao o banho-Maria, as opções para o pequeno produtor exigem alto investimento.
6 – Ter garantia de qualidade da matéria-prima. Esse problema não é exclusivo do nosso país. Confiar que a matéria-prima é de qualidade, ou ainda, que não tenha sofrido alteração, é uma reclamação frequente entre os consumidores desses produtos. Para se ter ideia de casos de adulteração, o óleo essencial de Bergamota, por exemplo, que é produzido em quantidades relativamente pequenas, tem uma venda anual reportada 30 vezes maior do que sua produção. Isso ocorre com alguns óleos essenciais e vegetais, sendo geralmente os mais caros, o objeto de adulteração.
Finalmente, esse foi um apanhado dos principais pontos de entrave para a cosmética natural no mercado nacional. Tenho certeza que muitos outros surgirão e espero que muitos ou todos os pontos abordados neste post tenham soluções em breve.
E você, o que pensa sobre o assunto? Deixe seus comentários sobre o assunto em nosso grupo no Facebook.
Até breve!